quarta-feira, 18 de abril de 2018

O Astronauta

I

As mensagens eram trocadas. Não havia preocupação com quem estava atrás do outro lado da tela. O acesso a computadores e internet era quase incomum. Para conseguir acesso, era necessário um cabo de telefone conectado ao computador. E, é claro, o número de uma central de telefone para transmitir os dados. O computador fazia um som diferente anunciando que estaria sendo conectado à internet.

Camila acessava constantemente a única rede social que existia na época em busca de novas amizades. Em sua primeira busca, encontrou uma garota com o mesmo nome e sobrenome. Mas como tudo era novidade, ficou na dúvida se era ela mesmo que estaria respondendo. Ela se divertia. Perguntava algo e ela mesmo respondia sem saber da resposta... E pensava consigo diante da descoberta “Que engraçado! Encontrei alguém com o mesmo nome que eu e não sou eu! ”

Assim era o bate-papo, bem como a internet. Hoje já nem existe mais papo, e as conexões discadas não existem mais.

Mas, Camila não parou na conversa com sua xará. Outro dia conversava com outro e depois com outro. Pouco a pouco foi desbravando toda essa área desconhecida.

Camila gostava de conversar, mas, apenas tinha curiosidade em conhecer aqueles que tinham papos mais interessantes. Como toda pessoa esperta, não era qualquer papo que prendia a sua atenção. E essas pessoas que a cativavam, ela marcava encontro na frente de uma revistaria que existia no shopping. Na frente dessa loja, ela conheceu: Carolina, Rita, João, Felipe...

Cada pessoa era única. Cada nova descoberta, singular. Cada uma dessas pessoas com algo similar a Camila. Uma pessoa gostava de Heavy Metal, outra de filmes, outra de... 

E numa dessas, mas não no mesmo lugar, conheceu um astronauta. Esse era o apelido carinhoso que dera àquele que a cativara. Era astronauta porque voava pelas ruas, onde todos andavam.

Mas ela, não dera muita atenção a ele de início, pois julgava gostar de outra pessoa...

Nesse dia que o conhecera, ela tivera um sonho. Talvez fosse o sonho mais concreto que poderia ter. Nesse sonho, ela estava num parque aquático. E nesse parque aquático, aparecera esse rapaz. Sentia como se o conhecesse há tempos, porém, nunca teria o encontrado antes. 

No entanto, à noite, combinara de conhecer esse amigo virtual. Combinaram de que ele passaria em sua casa. Ela ansiosa, ficava se indagando "Será um bandido? Um estuprador?"Entretanto, como todo jovem, Camila não pensara muito nas consequências. 

O rapaz tocou a campainha e Camila foi atender. Havia um carro parado à frente de sua casa com dois rapazes fora dele. Ao se deparar com o seu amigo virtual na vida real pensou “que garoto bonito! Será que ele é legal também?”

- Esse é o meu primo. – Apresentou-lhe um rapaz alto, magro, moreno claro. Este cumprimentou-a e, no instante seguinte, indagou-a– Vamos para algum outro lugar?

Sem questionar muito, como sempre costumava fazer, foi. Entraram no carro e seguiram por um caminho, depois tomaram outra rua e outra... chegando a uma viela, num bairro um pouco mais distante da casa dela. O primo desceu do carro, tocou a campainha e saiu uma garota.

- Hoje não poderei sair. – disse ela ao primo – Só poderei ficar aqui.

O primo e a garota ficara do lado de fora papeando, se beijando. Enquanto, Camila e o astronauta ficara em seu interior, e ele colocara algumas músicas para tocar no CD Player do carro. A conversa fluía. E Camila lembrava do sonho e sentia uma sensação forte de deja vu. Parecia que conhecia aquele rapaz há tempos! Mas, na verdade, aquele era apenas o primeiro encontro...

De repente, ele interrompeu-a em seu devaneio e disse-lhe:

- Se a mãe dela perguntar, não diz que nos conhecemos agora, fala que somos namorados. Ok?

Camila refletiu por um pequeno instante. Sabia que não era namoro coisa nenhuma, pois encontros casuais eram chamados de "ficadas". Mas, então a conversa fluía. E os olhos entregaram o real desejo de ambos... Um clima de romance pairava no ar e, de repente: O Beijo! Nesse instante, Camila sentia seus pés e seu corpo flutuando: o beijo era igual ao do sonho!


Joyce C L Gomes


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