terça-feira, 18 de março de 2014

Aqui não é praça

Um programa foi lançado. Foi lançado sem eira nem beira. Ninguém sabia como funcionava, nem mesmo quem o projetava. Mas mesmo assim esse programa foi lançado. O nome desse projeto não importa mais, mas no início era só maravilha. Era divertido para nós que trabalhávamos e muito mais para quem se entretinha.

Esse programa foi idealizado para acontecer nas escolas. Mas ninguém quer saber de escola se for para estudar no final de semana. Mas o Estado não entendeu isso. E requisitou que todos os profissionais trabalhassem num projeto especifico em sua área para ministrar para esses visitantes e profissionalizá-los nisso. Quem frequentava, não queria estudar. Quem vinha, queria mais é jogar: Jogar futebol, jogar vôlei... Enfim, jogar!

O programa foi idealizado para tirar crianças e adolescentes da rua. Quando me refiro ao “tirar”, quero dizer “desligar desse mundo violento, deixando-lhe ocupado e longe daquilo que é mau, isto é, longe das drogas, de assaltos/roubos e dos assassinatos”. 

Então tudo começa, no oba-oba daqui, oba-oba de lá... E o que era para ser divertido, se torna trágico e bem incoerente.

Os jogos viram cursos obrigatórios, espantando os visitantes. A movimentação diminui e o nosso tempo ocioso aumenta e, para que o tempo passe, nós nos entretínhamos com jogos de baralho e muito tricô.

Alguns visitantes apareciam, e sempre ouviam alguém dizer “aqui parece praça, mas não é. Tem diversos cursos, basta se inscrever”.

Os visitantes foram se reduzindo. A escola ficando as moscas. Vinha um e pedia “tia, libera a bola para a gente jogar lá na quadra”. 

E eu voltava a ouvir essa “tia” dizendo que “aqui não é praça, não é clube. Precisa se inscrever para algum curso!”

O tempo passa. Nova eleição. A gestão muda. Muitas escolas fecham. E as que não fecham, só recebem as moscas visitantes...

Essa escola aqui não era praça, nem clube e jogaram novamente as crianças e adolescentes na rua. E muitas dessas pessoas que insistiam em nos visitar, são ótimas, mas estão perdidas no meio dessa cidade violenta!




Joyce C L Gomes
17 de março de 2014

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