Ilustração: Joyce C L Gomes |
Eu sou o seu amigo. Você é a minha amiga. Conhecemo-nos num tempo remoto, onde as palavras valiam mais do que o dinheiro. E o dinheiro sequer comprava uma fruta.
Você é meu amigo e eu sou sua amiga, desde tempos em que a falsidade existia, mas não era algo prioritário. Conheço-lhe desde o momento em que a sociedade se preocupava com as pessoas, onde as ditas-cujas sequer pensavam apenas no seu “eu” e a bondade e a amizade predominava.
Você é meu amigo? E eu sou sua amiga? Pois é, tempos modernos, preocupações unilaterais onde você só se importa consigo e eu tentando resgatar a sua amizade.
Você se foi, eu me fui. A amizade cedeu o lugar ao egocentrismo e foi tirar férias em algum lugar bem distante e frio.
Você me conhece? E eu? Eu lhe conheço?
A nossa amizade se foi para algum lugar. Cansou-se de tanto individualismo, egocentrismo e se enterrou ao pé de uma árvore bem distante, irrigada com a água abundante do rio; esperando por novas pessoas de corações puros, preocupando e respeitando um ao outro...
Numa bela tarde, uma pessoa encontrou aquele local. Sentiu-se enternecida e energizada com aquelas vibrações passadas. Esperou por algum tempo para ver se algo mais acontecia naquele lugar.
Mas, nada aconteceu. Cansou-se de esperar e estava quase indo embora até que avistou uma vareta jogada um pouco atrás do caule da árvore. Nesse mesmo instante, teve uma ideia...
Aproximou-se então das margens do rio, cujo local havia um pouco de areia. Escreveu letra por letra até concluir a frase. Depois a olhou por completo e foi embora.
Momentos mais tarde, quase ao anoitecer, apareceu uma rapariga para nadar no rio... Quando colocou um dos pés sob a água, pisou em algo liso e caiu de tal maneira que pode ver aquelas palavras escritas na areia:
“Estive aqui procurando por você, meu amigo, mas você ainda não havia chegado. Procure-me e me encontrarás o mais próximo possível”.
A rapariga ficou encafifada com a frase, olhou ao redor e não encontrou mais nada. Tomou o seu banho e depois se sentou na raiz da árvore. Caiu no sono. Acordou algumas horas depois com o barulho de gritos e latidos.
A voz era de um rapaz, que tinha mais ou menos a sua idade, e os latidos do seu cachorro. O cachorro tentava sair da correnteza do rio. E o rapaz gritava:
“Ei, segura ele, por favor! Ele é o meu melhor amigo!”
A garota conseguiu agarrar o cachorro que passava num trecho do rio quase perto da árvore onde ela estava. Agarrou-o e trouxe para próximo da árvore. O cachorro, de tamanho mediano, estava cansado e deitou-se próximo das escritas. O rapaz se aproximou e viu que a frase ainda estava lá. E disse à garota:
“Eu escrevi essas frases para que o meu cachorro conseguisse sentir o meu cheiro, mas nunca imaginei que encontraria uma amiga aqui, que mesmo não me conhecendo, salvou o meu amigão peludo. Agradeço-lhe pela ajuda!”
E, a partir de então, começaram a conversar e a conversar... Quando se deram conta, já eram bem velhinhos e sempre estiveram um do lado do outro, até mesmo no dia em que o cachorro se foi para o céu, e o seu corpo foi enterrado próximo daquela árvore para que assim ele pudesse, mesmo estando nessa imensidão azulada, auxiliando duas pessoas desiludidas encontrar a verdadeira amizade, enfim o verdadeiro sentimento fraterno.
Eu era o seu amigo e lhe perdi. Desiludido fui embora para um lugar qualquer e lá encontrei um outro alguém...
E eu não era o seu amigo e nem você era a minha amiga. Conhecemo-nos num tempo remoto, onde as palavras já não valiam mais nada e o dinheiro comprava tudo.
Você não era o meu amigo e nem eu a sua amiga, desde tempos em que a falsidade era prioridade para uma sobrevivência social. Conheci-lhe no momento em que a sociedade se preocupava apenas com o dinheiro e sequer conhecia o amor e a amizade ao próximo.
Você não era meu amigo? E eu não era a sua amiga? As situações não mudaram, mas Alguém colocou-lhe em meu caminho e inspirou a fé de que um dia esse amigo aparecerá no meio da adversidade...
Não éramos amigos, mas passamos a ser. Ficamos próximos, nesse tempo finito. Aproveitando cada minuto que Ele nos concedeu... E fomos além, e muito além nos encontramos e cultivamos aquilo que não foi cultivado!
Você me conhece? E eu? Eu lhe conheço?
Talvez...
Joyce C. L. Gomes
18 de maio de 2013
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